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quarta-feira, 17 de julho de 2013

Jaiva Dharma

Jaiva Dharma


                Começo aqui a postar ensaios e estudos sobre obras importantes do Vaishnavismo, e escolhi para tanto o Jaiva-Dharma, pois ela contém inúmeras descrições sistemáticas de temas que interessam a qualquer devoto sincero de Sri Krishna. Estaremos estudando os mesmos ensaios na sede da Ordem de Zadkiel, cidade do Rio de Janeiro, em paralelo às publicações neste blog. Para fins didáticos e organizacionais, divido mentalmente o livro em três partes, cada uma delas com entre 12 a 15 capítulos: (a) reflexões sobre a natureza eterna da alma (nitya-dharma) – dos capítulos 1 a 12; (b) estudos sobre objetos do conhecimento (prameya) – dos capítulos 13 a 25; e (c) descrições dos fundamentos das sensações transcendentais de Amor Divino (rasa-tattva) – dos capítulos 26 a 40.    

Capítulo I. Os Dharmas Eterno e Temporário da Jiva

                No início deste capítulo, começa a se desenvolver uma relação entre Paramahamsa Babaji e o Sannyasi Thakura, quando o Babaji, no alvorecer, durante o cantar do hari-nama em sua tulasi-mala, enche-se do júbilo do nisanta-lila de Sri Sri Radha Krishna (ver Sri Krishna Madhurya). No momento em que o Casal Divino se separa, após seus passatempos noturnos, e cada qual volta para sua casa, Paramahamsa Babaji sente o forte pesar da separação dos dois e lágrimas de amor fluem de seus olhos. Estando absorto em meditação, ele se engaja no serviço apropriado para aquele período do dia, experimentando sua forma espiritual, desatento da consciência externa e do corpo físico. O Sannyasi se torna cativado pelo estado do Babaji e senta-se ao seu lado, observando atentamente seus sintomas de êxtase transcendental (sattvika-bhavas). Tais sintomas indicam a profundidade da relação do devoto com Sri Krishna, e os modos de reagir à mesma por quem a experimenta enquanto ainda permanece em um corpo físico.

                Depois que a experiência que o livro descreve termina, o Sannyasi pede ao Babaji que preencha seu coração com Vraja-rasa, ou seja, de relação transcendental com este aspecto específico da Morada Eterna de Sri Krishna (Vraja ou Vrindávana). A fim de instruir, a partir da Sabedoria do avançado devoto que o acompanhava, o Sannyasi Thakura começa a inquirir sobre o significado dodharma, um tema sobre o qual ouvira muitas contradições. “Por favor, me diga qual é o verdadeiro dharma constitucional da jiva”, questionou ele. Paramahamsa Babaji então explica que um objeto é chamado vastu e sua natureza eterna é conhecida como nitya-dharma. Quando um objeto, de acordo com a vontade de Sri Krishna é formado, ele adquire uma natureza em particular (nitya-dharma). Mudanças de sua conformação fazem com que ele adquira uma natureza distorcida, que se fixa e parece ser permanente, mas que não é a svabhava(verdadeira natureza) do objeto, mas sim sua nisarga (natureza adquirida).
                “Aqueles que têm verdadeiro conhecimento a respeito dos objetos (vastu-jnana) podem saber a diferença entre suas funções eternas e ocasionais, porém, os que não têm este conhecimento consideram ser a natureza adquirida a verdadeira natureza, consequentemente confundindo o dharma temporário com o eterno”, contina o Babaji. É explicado então o significado do pronome vastu, o qual se refere ao que tem existência ou é autoevidente. Vastava-vastu se refere ao que é situado em transcendência, enquanto avastava-vastu se refere aos objetos temporários. Objetos verdadeiros são os que têm existência eterna e que, portanto, estão relacionados à Suprema Verdade Absoluta, sendo estes os que valem a pena serem conhecidos. A única verdadeira Entidade é Sri Bhagavan e a alma individual (jiva) é uma parte dEle, enquanto maya é sua potência.
                Vastu se refere a três princípios fundamentais: Bhagavan, a jiva e maya, e o conhecimento a respeito da relação que há entre os três é conhecimento puro (suddha-jnana). Krishna pode ser comparado ao sol da realidade espiritual, a partir do qual emanam as inumeráveis partículas de luz (jivas). A natureza da jiva se revela no coração, quando concepções mundanas de comparação são eliminadas, pois todas são inapropriadas. O Babaji então comenta sobre diferenças essenciais que existem entre Krishna e a alma individual (jiva), a qual é aqui considerada como simultaneamente igual e diferente dEle, o que por se tratar de uma obra na linha filosófica de Achintya Bedha-Abheda é considerado verdadeiro, porém inconcebível. Ele diz: “Krishna é substância infinita espiritual (brhat-cid-vastu), enquanto as jivas são substância infinitesimal espiritual (anu-cid-vastu)”.
                “Krishna é o Senhor eterno das jivas, e as jivas são as servas eternas de Krishna. Esta relação é natural. Krishna é o Supremo Controlador, e as jivas são controladas. Krishna é o observador, e as jivas são observadas. Krishna é o Todo completo, e as jivas são pobres e insignificantes”, em comparação a Ele, acrescento, afinal a alma é rica em seus potenciais, pelo simples fato de ser ela uma infinitesimal partícula da Suprema Alma. (...) “A eterna svabhava ou dharma da jiva é krsna-dasya, o serviço eterno e obediente a Krishna”. Tudo isso está escrito no capítulo que introduz o Jaiva-Dharma, que também menciona algumas das energias ou potências de Sri Krishna, como sua potência completa (purna-sakti), que se manifesta no mundo material, e sua potência marginal (tatastha-sakti), que é observada na manifestação das jivas. A ação da potência marginal gera uma entidade (vastu) que vive entre os objetos animados e inanimados, e que pode se relacionar tanto com o mundo material quanto com o espiritual.

              A jiva se relaciona com a matéria inanimada, porque é ela uma partícula espiritual animada que se encontra situada na fronteira entre o mundo espiritual e o material. A alma condicionada (baddha-jiva) não está fora do alcance da matéria, como as jivas do domínio espiritual. Muito frequentemente elas são inclusive controladas por maya, enquanto Bhagavan é quem controla maya. Portanto, existe uma eterna distinção entre Bhagavan e ajiva, sendo o primeiro a fundação do segundo princípio, bem como de maya. A jiva é uma potência de Bhagavan e seu nitya-dharma é servir a Krishna, e quando ela se esquece disso é controlada por maya e se desvia de Krishna. Devido a este desvio, seu nitya-dharma é pervertido e, por associar-se com maya, desenvolve nisarga, uma natureza adquirida, a qual lhe proporciona uma função temporária (naimittika-dharma) e assume muitas formas. O próximo capítulo trata da pureza e eternidade do nitya-dharma da jiva, cuja função original é desenvolver Amor Divino e cuja natureza primordial é o serviço a Sri Krishna.


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