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quarta-feira, 17 de julho de 2013

Jaiva-Dharma V

Jaiva-Dharma V

Capítulo 5
O Serviço Devocional em Nitya-Dharma

                Surgem contradições, causadas pelas incompreensões de mentes condicionadas da família de Lahiri Mahasaya. Seus dois filhos, ocupados com afazeres materialistas, que lhes dão prestígio perante a sociedade, ouvem rumores desfavoráveis de sua vizinhança a respeito da suposta senilidade do seu pai que, após a idade avançada, decidira tornar-se um vaishnava renunciado. Alguém falou: “Que tipo de doença é esta? Todo o tipo de felicidade há na casa dele; ele é um brahmana por nascimento, e seus filhos e membros familiares são todos obedientes a ele. Que sofrimento poderia ter dirigido tal homem a adotar uma vida de mendicante?” Os filhos, envolvidos pela maledicência dos vizinhos, tomam a decisão de buscar o pai e um deles, Devidasa acompanhado de um primo (Sambhunatha), vai a Sri Pradyumna-kunja com a intenção de resgatá-lo.
                Lá chegando, eles presenciam a manifestação de uma congregação vaishnava, que entoa muitos cantos devocionais (bhajanas), glorificando a Sri Hari, ao som de mrdangas  e karatalas. Vendo o envolvimento profundo do seu pai com tal evento, Devidasa percebe que terá dificuldade de convencê-lo em voltar para casa. Mesmo assim, no dia seguinte, ele tenta, usando da oferta de construir, próximo à casa da família, um kutira solitário, onde seu pai poderia continuar suas práticas espirituais. Porém, Lahiri Mahasaya, ciente da ausência de sadhu-sanga (associação com devotos sábios) que teria de enfrentar em sua cidade, se recusa vigorosamente a abandonar o kunja onde se encontra alojado. Ele trava então um diálogo com seu filho, ao longo do qual explica várias diferenças que existem entre as práticas espirituais que se adequam aos modos da natureza material.
                Ele começa demonstrando que há dois diferentes tipos de sadhaka (praticantes espirituais). Os vaishnavas realizam suas práticas pelo simples propósito de atingir o estágio devocional perfeito (siddha-bhakti), enquanto não-vaishnavas em geral realizam tais práticas com dois objetivos: obter desfrute material (bhoga) e liberação (moksa). No segundo caso, a mente é depurada e consegue-se felicidade material e saúde, porém, no primeiro cultiva-se prema (amor puro por Krishna). O segundo processo existe para que as pessoas que se encontram espiritualmente inconscientes, a partir da obtenção dos benefícios secundários de suas práticas, possam se sentir estimuladas a buscarem pelos efeitos primários do primeiro. Ambos estão contidos nas escrituras (sastras), as quais, por sua vez, se dirigem a diferentes adhikaras (elegibilidades) do ser humano.
                Isso significa dizer que há escrituras próprias para as diferentes necessidades do ser humano, esteja ele sob influência predominante de qualquer um dos três modos da natureza. Os sattvika-sastras são para os que estão imbuídos com a natureza da bondade (sattva-guna), os rajasika-sastras são para aqueles que se deixam envolver pela natureza da paixão (raja-guna) e ostamasika-sastras são para os que se absorvem da natureza da ignorância (tamo-guna). Devem-se respeitar as necessidades de cada um, pois a fé depende da eligibilidade da alma (adhikara) para compreender os diferentes conteúdos dos sastras, e esta pode avançar gradualmente na medida em que os momentos apropriados para tanto se façam. Após tais explicações, Lahiri Mahasaya levou seu filho ao kutira de Vaishnava dasa e o deixa, indo cantar seus mantras. Devidasa trava então contato com as instruções deste devoto, começando por apresentar sua linha de estudos.
                Ao perceber que Vaishnava dasa era um erudito estudioso e profundamente autorealizado, Devidasa se sente inspirado em estudar o Vedanta, para o que é direcionado a buscar por uma cópia do manuscrito dos comentários ao Vedanta-sutra conforme foi explicado por Caitanya Mahaprabhu para Sri Sarvabhauma. Ao levar a notícia para o pai, Devidasa ainda insiste mais uma vez em tentar conduzi-lo de volta para casa. Lahiri Mahasaya responde que só voltaria para casa quando todos por lá tivessem se tornado verdadeiros vaishnavas, já que, segundo a lógica que apresenta ao filho, o serviço realizado à Deidade de Bhagavan em sua casa deve ser classificado como componente de naimittika e não nitya-dharma. Para que uma atividade de adoração de sri-vigraha (Deidade) se caracterize como uma atividade eterna é preciso que a forma transcendental, plena do Conhecimento e bem-aventurança, de Bhagavan se revele à mente do devoto.


                Tal forma transcendental, que se revela ao devoto, manifesta-se na Deidade, de modo que, ao se tomar o darshana da mesma, é sua união com a forma de Bhagavan que aquele que dela se aproxima com devoção pode ver a partir do coração. Segundo Lahiri Mahasaya, os jnanis veem a Deidade apenas como uma estátua feita de elementos materiais, onde o brahman está presente enquanto eles a adoram, a qual, porém, volta a ser uma estátua material depois que a adoração termina. Desta forma, os resultados obtidos destes dois modos de adorar são muitos distintos e, segundo Lahiri Mahasaya, na sua casa era a adoração de Bhagavan do segundo tipo que se realizava. Seu filho compreende com sinceridade às suas colocações, sentindo-se mais confortado por conhecer a real condição do pai. Ele ainda presencia a manifestação de devoção vaishnava de um descendente de muçulmanos e ao hari-nama-sankirtana que seguiu, e sua estadia no Pradyumna Kunja continua.

Postado por Sri Krishna Madhurya às 20:48 Extraído do blog: http://religiaobhagavata.blogspot.com.br/

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