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quarta-feira, 17 de julho de 2013

Jaiva-Dharma III

Jaiva-Dharma III

Capítulo III
A Natureza Temporária da Alma

                O capítulo começa descrevendo uma interação transcendental que o Sannyasi estabelece com a realidade etérico-Divina de Navadvipa, cuja ancoragem física está na Bengala Ocidental. Havia hari-nama-sankirtana e centenas de Vaishnavas cantavam e dançavam. Shiva e Brahma encontravam-se presentes, assim como Indra e outros devas. Devido à intensidade da experiência, ele decide assumir definitivamente sua Fé Bhagavata.  “Então, ele abandonou suas roupas de renunciado Mayavada, seu nome prestigioso de sannyasa, e a concepção exaltada que tinha de si mesmo”, aceitando o nome Vaishnava dasa que o Babaji Mahasaya lhe deu.

                Naquela tarde, muitos Vaishnavas vieram ver o Bababji e se encantaram com a mudança de caráter que Vaishnava dasa demonstrava. Ele rolava no chão perante os demais devotos, e concluía que a poeira dos pés dos mesmos, a água que os lavava e o néctar que emanava de seus lábios eram as medicinas e o modo de vida indicados para os aflitos pela doença da existência material. Tal era o seu estado de rendição à fé que assumira, que se fizera capaz de humildemente se colocar como alguém que vencera, através da misericórdia Vaishnava, a vaidade de seu nascimento nobre, o orgulho de sua suposta erudição e a arrogância do seu status social.
                Os outros Vaishnavas ali presentes intercambiaram com ele votos de respeito mútuo e humildade, lembrando que bhakti é acordada quando alguém se associa com devotos do Senhor.  Foi então que um cavalheiro presente ali naquela ocasião, nascido de família de brahmanas aristocrática, e que era praticante do hari-nama-sankirtana, lançou a todos uma pergunta. Ele queria saber porq              ue certos ritos religiosos dos sastras (escrituras) não são aceitos pelos Vaishnavas. O Babaji pede que seu novo discípulo responda, ao que ele começa a explicar que a natureza humana tem duas tendências com relação à busca religiosa; a primeira é vaidhi, a qual impele a pessoa a seguir as regras e regulações das escrituras, e a segunda, raganuga, causa a atração espontânea da alma por Sri Krishna.
                Enquanto a inteligência se encontra sob o controle de maya, ela está propensa a ser regulada por regras e regulações religiosas. Porém, quando a inteligência se encontra liberada de maya, ela não precisa mais ser governada por tais regulações. Na primeira condição, vaidhi ainda existe, mas na segunda é raganuga que se manifesta. Esta última tendência pertence à natureza não adulterada da alma (jiva), transcendental e livre de apegos materiais, e deve ser perseguida ardentemente pelas jivas. Devido à falsa natureza adquirida (nisarga), a jiva erroneamente se considera atrelada aos objetos mundanos, sem se sentir atraída por objetos espirituais.
As concepções de “eu” e “meu” fazem com que haja atração por pessoas e coisas que possam causar prazer ao corpo material e, ao mesmo tempo, aversão ao que não causa esse tipo de prazer. Há apego por coisas que o dinheiro pode comprar (kanaka) e por pessoas que podem satisfazer os pervertidos desejos (kamini), o que mantem a jiva sob o controle de satisfação temporária e entretenimento. Ela se mantém em samsara e, esquecida de sua natureza eterna, vaga no universo material, de acordo com os frutos do karma, nascendo e morrendo muitas vezes. Nesta miserável condição não existe raganuga, a qual, no entanto, pode ser avivada no coração de qualquer alma, Vaishnava dasa continua explicando.
 Sadhu-sanga, a associação de devotos santos, pode ter este efeito sobre a jiva condicionada, que se encontra destituída de inclinação espiritual. No entanto, como isso nem sempre é possível obter, uma parte do Veda sastra ensina que existem atividades piedosas que levam à aquisição de frutos materiais (karma); outra que o conhecimento pode levar à liberação (jnana); e outra que promove a devoção com amor e afeição por Bhagavan (bhakti). Porque as almas vivem sob diferentes condições, os sastras as proveem de distintos tipos de instruções. Os que não seguem os ensinamentos sástricos são mlecchas, incivilizados, propensos a atividades pecaminosas. Os que são elegíveis às instruções dos sastras devem entender que karma-yogajnana-yoga e bhakti-yogaformam um sistema único de yoga.
Os que adotam o caminho de karma executam atividades que têm por finalidade manter a vida pessoal, que são de dois tipos: auspiciosas (subha) e inauspiciosas (asubha). Há três tipos de subha-karma: os rituais obrigatórios (nitya-karma), os deveres circunstanciais (naimittika-karma) e as cerimônias realizadas por desejos pessoais (kamya-karma). Esta última é completamente interesseira e deve ser rejeitada, enquanto as duas primeiras são consideradas aceitáveis. A seguir o devoto apresenta o sistema devarnas e asramas, que classificam as pessoas de acordo com sua natureza (varna) e estágios da vida (asrama), e que não serão aqui comentadas, pois não serão focos da ação cotidiana dos iniciados da Sagrada Alquimia.

Interessa-nos também mencionar a distinção feita porVaishnava dasa entre a pureza do cultivo espiritual causada por nitya-dharma a uma alma considerada sem casta (candala) em comparação com atividades influenciadas pelo naimittika-dharma de certosbrahmanas. O que significa dizer que mais vale a pureza das intenções da jiva do que sua classificação em varnas asramas. Conforme o devoto dispõe, existem almas que estão espiritualmente despertas (udita-viveka) e as que estão espiritualmente inconscientes (anudita-viveka). Desde o ponto de vista das jivas que estão espiritualmente despertas, as não despertas são elegíveis a obter instruções a respeito de naimittika-dharma que, no entanto, é incompleta, adulterada, impermanente e adequada para ser rejeitada.

Não se trata de uma prática espiritual direta, mas de um conjunto de atividades materiais temporárias, que precisam ser compreendidas como meios e não fins. Ela muda a cada vida, enquantonitya-dharma é permanente e nunca muda. Aquele que se encontra espiritualmente desperto nunca aceita objetos e associações que não sejam favoráveis a sua prática espiritual, e rejeita as desfavoráveis, não aderindo cegamente às regras e regulações dos sastras. O brahmanaque tinha feito a pergunta aceitou Vaishnava dasa como seu guru, pois ficou plenamente satisfeito com a resposta que obteve, assim como todos os demais presentes.

Postado por Sri Krishna Madhurya às 20:48 Extraído do blog: http://religiaobhagavata.blogspot.com.br/

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