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quarta-feira, 17 de julho de 2013

Jaiva-Dharma II

Jaiva-Dharma II

Capítulo II. A Natureza Eterna da Alma

               Continuando o estudo do Jaiva-Dharma, a partir do que se relatou a respeito do capítulo 1, na manhã seguinte ao que ali é descrito, Premadasa Babaji se encontrava imerso em vraja-bhava, servindo na Eterna Morada dos residentes de Vraja. Mas, após o meio dia, o Sannyasi Mahasaya conseguiu falar com ele, e procurou continuar o diálogo a respeito de nitya-dharma, a função constitucional eterna da jiva (alma). Ele perguntou: “Senhor, se a jiva é infinitesimal, como pode seu eterno dharma ser pleno e puro?” O Babaji, assim inquerido, explicou que embora a jiva seja infinitesimal, de fato seu dharma é pleno e eterno (nitya). Sri Krishna é a única e infinita substância e as jivas são como fagulhas que emanam de seu indivisível fogo e, portanto, a jiva é capaz de exibir a função plena da consciência. Assim como uma pequena fagulha de fogo pode iniciar um incêndio que incineraria o mundo, a jiva pode trazer uma grande inundação de amor por Sri Krishna e afogar ao mundo.

                No entanto, enquanto a jiva falha em contatar com o real objeto de suas funções espirituais, ela se torna incapaz de desenvolver tais funções e de transparecer o seu eterno dharma. O Babaji coloca que a eterna função da alma é desenvolver amor transcendental (prema) por Krishna e a natureza deste amor é o serviço devocional. As jivas existem em duas condições: em estado liberado (suddha-avastha) e em estado condicionado (baddha-avastha). E elas podem mudar frequentemente de condição, enquanto Krishna nunca muda. Ele é Supremo, completamente puro e eterno, enquanto a jiva é diminuta, suscetível à contaminação e sujeita às mudanças. Mas, o dharma eterno da jiva, ou função inadulterada, é grande, indiviso, puro e para sempre duradouro. Enquanto a jiva se mantém pura, seu dharma se mostra intacto. Mas, quando ele se torna contaminado a partir do envolvimento com maya, sua natureza verdadeira é pervertida e ele permanece oprimido por felicidade e sofrimento mundanos.
                Quando a jiva se identifica com um corpo, ela se torna egoísta e pensa: “Eu sou um brahmana; eu sou um rei; eu sou pobre; eu sou miserável; eu sou oprimido pela doença e por lamentações; eu sou uma mulher; eu sou o mestre desta ou daquela pessoa”, comentou o Babaji. E a pessoa se identifica com muitas concepções mundanas, pervertendo sua função constitucional. Tal perversão se mostra em forma mais concentrada no corpo grosseiro como os prazeres de comer, beber e travar contato com objetos dos sentidos. O dharma da alma condicionada, que assim se caracteriza, é chamado de naimittika dharma, ou função circunstancial dajiva; e ele faz parte de uma categorização dos dharmas, os quais, segundo as explicações dadas pelo sábio Babaji, são de três tipos:nitya-dharma (função eterna e primordial), naimittika-dharma (circunstancial) e anitya-dharma. Este último tipo envolve aquelas almas que não se interessam pela existência de Deus (Isvara) e não aceitam a eternidade da alma. Em naimittika-dharma há a aceitação deIsvara e da eternidade da alma, mas só se busca por Isvara através de métodos provisórios.
                Uma nova pergunta do Sannyasi conduz a conversa a um interessante aprofundamento. Ele questiona: “Eu entendo que omahabhava, que foi exibido por Sri Caitanya, é o estado mais elevado de prema concentrado. É isso diferente da aquisição da perfeição da unidade absoluta (advaita-siddhi)?” O Sannyasi era impersonalista, seguidor de Sankaracarya, e, portanto, queria entender se sua busca e a do Babaji se equivaliam.  O Babaji, após comentar direcionamentos dados por Sankaracarya, a encarnação de Mahadeva-Sankara (Shiva), que combateu à doutrina de sunyavada, fortemente propagada pelo niilismo budista, chegou ao ponto específico contido naquela mesma questão. Ele começa explicando o que é prema, uma “função através da qual duas entidades transcendentais se atraem espontaneamente uma para a outra”. Tal ideologia se apoia na aceitação de que Krishna tem sua Eterna e separada existência e as jivas também, havendo um terceiro ingrediente que é prema, através do qual aquelas duas contrapartes se relacionam. A doutrina de Sankara nega a eternidade de tal relação, pois não reconhece haver diferença entre os dois primeiros ingredientes da mesma.
                O Sannyasi Thakura que era um Mayavada, neste ponto, decide mudar suas vestimentas, pois aceita plenamente a posição de discípulo do Babaji Vaishnava, ao perceber que prema é superior à fusão impersonalista com o Brahman, pois oferece ao devoto a felicidade Eterna da relação com o Senhor. Porém, o Babaji lembra-lhe do que o próprio Senhor Caitanya ensinou, quando ele disse: “Não adote markata-vairagya (renúncia de macaco, externa) apenas para impressionar ao povo em geral”; e acrescentou que quando odharma se torna purificado, a aparência externa se faz adequadamente. "Onde há muita preocupação com a aparência externa, há desatenção com as funções internas da alma”. O Sannyasi então de imediato deixa de pensar na troca de vestimentas, e lança novo questionamento, o qual direciona seu mestre espiritual a explicar que o nitya ou jaiva-dharma, o amor não adulterado que a jiva tem pela Entidade Infinita, não é descrito por outras religiões não Vaishnavas, com o que eu concordo plenamente. Ele diz: “Não tenho visto ensinamentos sobre o amor não adulterado por Sri Krishna em nenhuma outra religião, no entanto, descrições de Krsna-prema são comumente encontradas entre os ensinamentos do Vaisnava-dharma”. Daí o porquê de estarmos realizando estes estudos, em torno de escritos das quatro Sampradayas Vaishnavas e aqui, mais especificamente, em torno do Jaiva-Dharma, de Srila Bhaktivinoda Thakura.


Embora as práticas religiosas a que nos dedicamos sejam outras, nosso objetivo essencial é o mesmo dos demais Vaishnavas, ater o amor puro (prema) por Sri Krishna. E por estar vivenciando de profundas experiências transcendentais com a Suprema Fonte de todo amor me dou a liberdade de discordar das conclusões finais deste capítulo do Jaiva-Dharma, quando o Babaji comenta que um verdadeiro Vaishnava, de acordo com as instruções de Sri Caitanya Mahaprabhu, é reconhecido pelo modo como ele canta o Sri-Krishna-nama, sendo este o único critério através do qual se pode discernir quem é um Vaishnava. Eu de fato em meus principais momentos de relação com Sri Krishna não consigo nem balbuciar às palavras do maha-mantra, devido ao descontrole externo causado pelo êxtase. E não tenho medo de me colocar entre os que pertencem à categoria dos Vaishnavas mais exaltados (uttama), embora esteja propagando ensinamentos da Sagrada Alquimia, uma linha que, embora seja completamente diferente do que existe proposto pelas quatro sampradayas,  comprovadamente pode transferir a jiva ao seu estado mais puro, transcendental e liberado, 

Postado por Sri Krishna Madhurya às 20:48 Extraído do blog: http://religiaobhagavata.blogspot.com.br/

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